03/05/2007

Sei os teus seios.
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com vontade avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?
Seios fortes como os da Liberdade
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"
Retirar-me para uns seios que me esperavam
Há tantos anos, fielmente, na província!
Os seios que de velho que era
Me deram de novo a leveza.
Em que o amor se exalta e robustece!
Seios adivinhados, entrevistos,
Sempre desejados, sempre atrevidos!
Engolfo-me nos seios até perder
Memória de quem sou...
Pouso a cabeça no teu seio
E tudo me estremece a alma e a carne.
E amo, amo, amo-os
Tanto quanto à vida que mos deu a mim.
E hei-de amá-los eternamente.

26/04/2007

POSSO VER OS TEUS OLHOS LONGE
POSSUIDORES DO AMOR QUE DE NÓS ESCORRE
POSSO SENTIR O ESPIRITO QUE SUSSURRA
CANTANDO NOVAS AO MUNDO
VOANDO, VOANDO
PARADA INCONTORNÁVEL
O SENTIDO DO BRILHO
DE SINAL ADORADO
SALVÉ O MUNDO
DOM PROFUNDO
PARTO DE MIM
PERTO DE TI
MINHA ESTIMA ESTIMO
SOBRE O MUNDO LUTO

20/04/2007

"filo-de-sophia"
é tão bom ter uma amiga como tu
há certas manifestações de amor na vida que dificilmente encontram rival. TU.
São Bento

18/04/2007

Cântico do Sol...

Em forma de toada, como se fosse o prelúdio de um beijo azul-ternura, o Sol envolveu o quarto adormecido. Devagar, com um timbre feito de carícias foi acordando, uma a uma, as cores, apagando a escuridão e, de repente, já o quarto era uma manta de retalhos tecida com os fios do arco-íris. Num improviso, um raio de Sol pousou sobre os ombros e as costas dela, que os lençóis revoltos descobriam. E com aquele sussuro do amanhecer... ela acordou. Ainda de olhos fechados, permaneceu ali deitada a ouvir o cântico do Sol na sua pele. Um rumor a poesia percorreu-lhe o corpo antes mesmo que outras memórias, que aquela sua história lhe chegasse aos olhos. “Aceito os anjos nos beijos que me dás,pondo rosas nos teus dedos descuidados.” Lentamente, os contornos daquele rumor assumiam palavras dentro de si a cada toque do cântico do Sol na sua pele... Folhas brancas, palavras soltas, versos doces de Andrade, de Ary... “Sou flor do espanto e da ternuranão serei casta nem purasou rosa” Sorriu, pela forma simples como aqueles versos estavam em si e os recordava, palavra a palavra... Logo ela que sempre fora incapaz de memorizar os seus próprios poemas!... Rosas em dedos descuidados... Os seus que agora afastavam todo o lençol, expondo a sua nudez à voz cândida do Sol... Flor da ternura... A rosa! Onde está a rosa azul?... Levantou-se. Levou consigo a resposta e em passos de nuvem foi até à janela. Afastou as cortinas e a manhã vestiu-lhe o corpo nú de Sol, de um véu feito de brilho a tocar a tonalidade do oiro. Abriu os braços num gesto de desprendimento e deu-se toda àquele cântico do Sol sobre a sua pele. Que rumor a magia sentiu... A mesma janela. O mesmo largo de tantas histórias. E uma manhã de fins de Fevereiro, em que o Sol promete a Primavera que há-de vir. Segura ainda a rosa do velho contador de histórias. O café há muito que fechou e não tem a quem entregar aquela rosa nascido do orvalho, nascida do vento em forma de homens que deitados no colo das estrelas contavam histórias de encantar. Segura ainda a rosa nos seus dedos descuidados, repete o poeta, nos seus dedos que percorreram naquela noite o corpo dele e se aninharam na nudez do seu sorriso. Naquele sorriso onde ainda agora – longe - se reflecte o Sol do olhar dela... E o Sol continua no seu canto... a rosa está nos teus olhos, no teu corpo, nas tuas mãos, nos teus contos de azul pétalas de luar flores de orvalho tecidos ao amanhecer, à sombra de um beijo que as sombras apagou. A rosa azul está em ti. Recebeste-a do velho contador de histórias. Era uma vez um homem que se fez vento... Lembras-te?... As histórias de encantar?... - pareceu-lhe ouvir o Sol sorrir - chegam agora em corolas de poesia, salpicadas de ternura, de vontade de seres mulher... Chegam por entre o cheiro orvalhado do jasmim e das frésias... Por entre o silencioso cheiro das camélias brancas do teu jardim... Canta o Sol sobre a sua pele... Levou a rosa azul até junto do rosto. Sentiu-lhe o aroma a Vento de mãos dadas com o Sol. Sentiu-lhe o veludo frágil das pétalas, a força interior dos espinhos e do caule e pousou-a no peitoril da janela. Ainda não era tempo de a entregar, sorriu. Tinha tantas histórias para contar... Tantos cânticos do Sol sobre a sua pele para transformar em poesia de orvalho pela manhã ou em poentes inebriados pela próxima chegada da Lua... Tantos violinos para sentir no seu corpo, em tantas noites de amor... Tantos elogios ao Sol para fazer nascer nos olhos de quem agora lê estas palavras... Ainda não era tempo de entregar aquela rosa... E ali, junto à janela do seu quarto adornado pelo amanhecer, permaneceu mais uns instantes, nua, vestida de Sol... Era uma vez uma mulher que se fez cântico de Sol...

07/02/2007

são sempre dois

Vagueias nas mais nuas e felizes ruas de luz, onde não há um fim que procuras, nem a sombra que ininterruptamente te persegue. Não bebes o chá nas horas mornas, não por gosto, sim por justificação; corres, e voltas a correr, desenfreadamente, astuta de mente à escuta, a noite escura a poente. Não envergues a vergonha e mente, mente descaradamente, insolente, demente, contente. Lagartixas amarelas incham ao sol, de cor de mel fulminado em pastel, geringonça mastronça, caminho de lã; sapos ardem em suaves e cálidas tardes de verão, no serão que se avizinha, numa sala ou cozinha, no covil do meu colchão. Arrepios de flores desabrocham no meu lindo jardim, e agradeces, ao sono musculado, a vontade de me recordar. Confortáveis satélites de chifre de rinoceronte escaldado, sobrepostos em muros de bolas de Berlim, açúcar mascavado e creme de marfim. Tu.

eu vejo, não tanto

Vê-me acordar um preço por ti e pela luz que lá de fora vejo Vê-me cobrar em ti a luz que te dentro me vez De vez em quando Voar até à luz e reparar, num percalço Aquilo que está em teu encalço Um ventre que se esgueira pr’a suportar De vez em quando Perto de mim, eu vejo Longe de ti, não tanto